Segundo Resgate a Portugal em Setembro
Publicado no EXPRESSO de dia 4 de Agosto 2012
Por André Ribeiro
Duas narrativas foram formadas, uma do norte da Europa, diz que os países do sul são preguiçosos e não querem trabalhar, nem pagar impostos e só querem receber ajudas à custa do norte. Outra a dos países do sul da Europa, diz que os países do norte se aproveitaram do euro para desvalorizar as suas moedas e aumentar as exportações à custa do sul.
A União Europeia tem uma pesadissima estrutura, uma máquina burocrática de criar regulamentações, tornando as empresas cada vez menos competitivas.
É um sistema altamente ineficiente, com mais de 33.000 funcionários e custos elevadissimos, composto por comissários não eleitos e com um parlamento que se reúne uma parte do ano em Estrasburgo e outra parte do ano em Bruxelas. Toda a máquina se move para um lado e para o outro.
Desde o surgimento do Euro, que o crédito bancário se expandiu extraordinariamente. A maioria dos bancos está nas mãos dos políticos e os políticos estão nos bolsos dos bancos.
Portugal cumpre as imposições dos credores da Troika, com toda a austeridade que isso implica. Contudo, as receitas fiscais continuam a cair e os dados apontam para que vai falhar o objectivo do défice para 2012. A carga fiscal aumenta e a receita diminui.
Em 2010 do total das declarações fiscais apresentadas à administração fiscal menos de 43% dos indíviduos pagaram IRS e no caso das empresas apenas 29% pagaram IRC. Não é preciso ser licenciado em Ciências Políticas para perceber onde isto vai parar.
O desemprego oficial aproxima-se dos 16%. No primeiro trimestre de 2012 a dívida pública portuguesa cresceu para os 111,7% do Produto Interno Bruto (PIB), um aumento de 17,2% face ao último trimestre do ano passado. Estamos numa espiral que torna possivel que o patamar dos 120 por cento do PIB seja ultrapassado já em 2013. Segundo o Eurostat a dívida privada no final de 2011 estava nos 249% do PIB, o que somado à dívida pública dá um rácio da dívida face ao PIB de cerca de 360%, ou seja, completamente insustentável.
É impressionante como o país conseguiu acumular dívida sem isso se reflectir em crescimento económico. Agora que momento da verdade chegou, há que começar a pagar a dívida de volta. O acréscimo do nivel de vida foi conquistado à custa de empréstimos para aumentar as importações, agora que o crédito abrandou, o nível de vida está a regredir aceleradamente.
O regresso ao mercado da dívida em Setembro de 2013 é cada vez mais improvável. Seguindo a lógica aplicada à Grécia e de acordo com a regra do FMI que só empresta caso o país consiga substituir a sua dívida por novos títulos nos 12 meses seguintes, a data provável para o segundo resgate a Portugal é este Setembro.
Provavelmente Portugal, precisará de um pouco mais de 50 mil milhões de euros, 24,2 mil milhões para financiar obrigações em 2013 e 2014, mais 26,9 mil milhões para 2015 e mais um extra para cobrir a degradação económica e ajudar a atingir as metas do défice.
O crescimento exponencial da dívida, através da criação massiva de moeda está a fazer colapsar o poder de compra. Por isso, o dinheiro real, há milhares de anos, que é o Ouro, está a ganhar força.